Os primeiros posicionamentos polêmicos do novo Papa foram publicizados.
Leão XIV registrou, em documento oficial divulgado, que a família se baseia na união estável entre homem e mulher. E que a Igreja seria contra o aborto.
Embora pareça uma baita contradição, ou um “contraditio in terminis”, como diriam os latinistas agostinianos, do tipo do Papa, seria possível aceitar esses posicionamentos e seu contrário. Em tese, naturalmente. E simultaneamente.
Como? Vejamos.
O Papa parece coerente ao defender o casal tradicional, heterossexual, nos moldes bíblicos de Adão e Eva.
Assim como parece coerente a Igreja Católica fazer uma defesa intransigente da vida, sem concessões.
Até aí, estaria de acordo com a doutrina tradicional.
Entretanto, a partir do momento em que mulheres que praticaram o aborto, ou casais em união heterodoxa, sofram qualquer punição da Igreja, em razão disso, a situação complica.
Uma coisa seria acusá-los de cometer pecado, ou uma impostura. Promovendo uma retórica conservadora, ao gosto de determinados setores da Igreja.
Afinal, o pecado seria uma condição permanente da espécie humana, infelizmente.
Outra, seria encaminhar supostos pecadores, na prática, para a “fogueira” das sanções canônicas. Ou excluí-los de algum sacramento fundamental, como a comunhão, por exemplo.
Nesse caso, seria, para o católico, uma sanção moral, religiosa e social de grandes proporções. Afastando-o fisicamente das principais celebrações religiosas de sua fé.
A classificação do que é pecado, no seu âmbito, seria atribuição da Igreja.
Por outro lado, acolher o pecador se propõe sua razão de ser.
Afinal, pecadores somos todos, inclusive clérigos de todos os níveis.
Mas a misericórdia seria divina.
Ou, talvez como disse Jesus Cristo: “aquele que nunca errou que atire a primeira pedra”.
Nessa medida, posicionamentos que resultem na exclusão de fiéis, ou na estigmatização de seu perfil, não deveriam ser aceitos.
Fora disso, o que temos é conversa fiada.
Marco Antônio Andere Teixeira – Historiador, Advogado e Cientista Político